Terceiro setor
Privacidade
Hong Kong, junho de 2013: Em entrevista a jornalistas do The Guardian, Edward Snowden, ex-prestador de serviços para a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (EUA), começa a expor ao mundo uma série de programas de vigilância em massa conduzidos pela agência em questão, em parceria com governos de outros países, capazes de vasculhar informações de redes sociais, e-mails e telefonemas de milhões de cidadãos inocentes, dentro e fora dos Estados Unidos.
Brasil, outubro de 2013: o antropólogo Tiago Pimentel, o cientista político Sergio Amadeu e o programador Rodolfo Avelino, atentos às revelações de Snowden, chegam à conclusão de que algo precisa ser feito em respostas aos constantes ataques à privacidade de cidadãos comuns também no Brasil. Surge a Actantes – Ação Direta pela Liberdade, Privacidade e Diversidade na Rede.
O nome deriva da semiótica. Criado pelo semioticista francês Julian Tesniére, foi melhor desenvolvido posteriormente pelo lituano Algirdas Greimas, que assim descreveu actante: “quem realiza ou o que realiza uma ação”. Múltiplos princípios guiam a organização: o direito à privacidade e ao anonimato; a liberdade de compartilhamento de bens culturais; a não-separação entre natureza e cultura, tecnologia e artes; a exploração da ambivalência dos plugins, protocolos e softwares; além da construção do futuro através de práticas recombinantes.
A Actantes acredita que a melhor (talvez, a única) forma de proteger dados pessoais e informações sensíveis na era digital é a criptografia. Tendo isto em vista, desenvolve projetos com o fim de popularizar a prática em questão e expandir a comunidade de usuários. Pouco tempo após sua fundação, a Actantes organiza em sua primeira sede a Cryptoparty, festa acompanhada de discussões e tutoriais sobre criptografia. Diante do sucesso, nos dois anos seguintes, realiza uma edição ao ano da Cryptorave, desta vez no Centro Cultural São Paulo.
Juliano Vieira, profissional do setor de audiovisual da Actantes, fala sobre a importância de defender a privacidade na rede. Ouça aqui:
Em 2014, passa a prestar serviços para a Prefeitura de São Paulo e desenvolve a Criptosampa, projeto de introdução à criptografia, conduzido periodicamente em praças com Wi-Fi livre, CEUs, bibliotecas e pontos de cultura. Em parceira com a empresa de desenvolvimento ágil de software ThoughtWorks, conduziu, em três edições, ao longo deste ano, o Criptomídia, curso de criptografia para estudantes e profissionais de jornalismo e midialivristas. No começo deste mês, realizou sua primeira Install Fest, evento dedicado a instalar o Debian, sistema operacional composto por software livre (aliás, indispensável para uma defesa real da privacidade), em computadores anterioramente equipados com software proprietário como o Windows.
A Actantes conta uma equipe de 10 colaboradores, dentre eles jornalistas, cientistas sociais e profissionais de rádio e TV. Ao longo de 2016, pretende avançar nas áreas de acompanhamento legislativo e dar continuidade aos projetos acima citados. A Actantes é mantida com doações e verbas decorrentes de editais do poder público.
Fotos: Divulgação Actantes